quinta-feira, janeiro 10, 2013

Fazendas Urbanas e Ativismo Social para Segurança Alimentar

Bom, praticamente ninguém nesse mundo vai sobreviver sem comida.

Pessoas que não podem comer comida em uma forma tradicional, estão em coma, tem deficiências ou desabilidades funcionais do sistema digestivo, necessitam de alguma forma de alimento para sobrevivência.

Não existe ser humano sem alimentação.

Os seres humanos passaram a perder a liberdade quando os governos de seus respectivos países se sentiram mais importantes que suas próprias populações, e tomaram das mãos dos humanos o espaco geográfico necessário para sua subexistencia.

Sem terra não existe moradia nem existe alimentação. Sem ambos, não existe homo sapiens.

Pode se dizer que os governos são contra a vida de seus próprios povos, uma vez que não compartilham o espaço geográfico sob suas bandeiras, de forma igualitária, para sua própria população nativa. Muitas vezes, animais têm mais importância que os próprios bípedes indigenas.

A sedução causada pelo dinheiro e a possibilidade de ter segurança alimentar e de moradia faz com que as sociedades e todos os seus integrantes persigam o trabalho e as riquezas providas pela escravidão moderna, que acontece quando você troca o seu tempo diário por dinheiro e alienação, para excutar tarefas que não vão produzir, melhorar ou diretamente interagir com sua comida ou com sua moradia.

De certa forma é correto observar que um governo, independentemente de democrático, socialista, comunista ou qualquer outro rotulo filosófico de organização e mentalidade que se queira aplicar, sempre será baseado em um modelo escravocrata, a partir do momento que a população sob aquele governo não detém absolutamente nenhum tipo de ferramenta para produzir sua subexistência, tanto em termos alimentares ou domiciliares.

Talvez, se houver uma próxima revolução, deveria ser a revolução que garantiria essas seguranças, de uma forma que houvesse a responsabilidade de um governo e de todos em uma comunidade em prover alimentação e moradia para cada um dos indivíduos da sociedade. Alimento para todos, de forma igualitária, pois todos necessitam, e domicilio a todos que assim o queiram.



Reaproveitamento do espaço urbano

1) Ter água disponível é um importante aspecto para produção de alimentos, e o reaproveitamento das superfícies urbanas para acúmulo de água de chuva é um processo importante para que se obtenha com um mínimo de esforço, água para consumo e para produção de alimentos;

2) Topos de edifícios como solução no controle de temperatura através da absorção de àgua de chuva. Prédio dos mais diversos tipos, áreas de terreno baldio entre outras, podem facilmente incorporar estruturas para produção de alimentos. Além de dar utilidade para um espaço morto dentro da cidade, hoje sabemos que isso ainda melhora o controle de temperatura e microclima desses espaços, aumentando economia no uso de ar condicionado. Por consequência, alterando a capacidade de absorção de agua de chuva que o concreto impossibilita, também melhorando os aspectos de alteração fluvio/pluvial das zonas urbanas (quem sabe até chegando próximo a mitigar problemas de enchente (e enchentes relâmpago) em zonas urbanas);

3) Disseminação de áreas verdes, e de producao de alimentos em zonas urbanas, tambem altera a psique humana e melhora a saude das pessoas pois imprescindivelmente e irreversivelmente os seres humanos precisam de contato com o verde, nem que seja somente para ter areas verdes em seu campo de visao, alem do fato de que existiria muito mais possibilidade de que qualquer pessoa possa ter contato com seu proprio jardim para producao de alimentos ou de vegetais de seu proprio gosto;

4) Obtendo mais espacos para producao de alimentos, podera existir um mercado mais diversificado de trabalho para o desenvolvimento de tais estruturas, gerando empregos e aumentando a capacidade de distribuicao de alimentos para muito mais pessoas em areas maiores de comunidades urbanas;
 



Redefinicao do conhecimento nutricional / producao de alimentos

1) As escolas deveriam prover, primordialmente, como parte da educacao dos futuros adultos, educacao alimentar assim como educar sobre como observar o que existe no que se come (ler rotulos e entender o que eh bom ou ruim), alem do conhecimento basico de biologia. Justamente deve-se o entendimento de que todos somos o que comemos. A saude de todos depende do que se come. Talvez apos uma ou duas geracoes com uma educacao pro saude, veremos um declinio em muitas doencas, disturbios alimentares e consequentemente um declinio no custo da manutencao do sistema de saude publico;

2) Obviamente que havera um conflito entre os interesses corporativos em varios niveis das sociedades quando ouver uma mudanca na atitude governamental em relacao a alimentacao das pessoas, para tanto, nao existirão motivos para deter as grandes empresas em pensar mais no desenvolvimento de produtos menos nocivos, que pensam mais na saude das pessoas e menos no lucro, que muitas vezes utiliza shortcuts nao saudaveis para minimizar o custo de producao e maximizar o lucro. Industrializacao de alimentos nunca ira embora e existe espaco no mercado para manipulacao de muitos tipos de alimentos, porem muito mais sensatez eh necessaria, do que o que vemos agora nas prateleiras dos mercados;

3) Quando se fala de praticas de producao industrial de alimentos que nao levam em conta a saude das pessoas, deve-se enfatizar que muitas doencas tem uma ligacao direta com aspectos (componentes, formas de producao, outros) de alimentos. Doencas que podem varias de alergias ateh canceres. Deve haver uma intervencao pratica nas sociedades para ajudar as pessoas a terem acesso, conhecimento e seguranca alimentar com melhores formas de alimentos industrializados ou nao;

4) Outro aspecto importante que deve ser levado em conta, eh em relacao ao disperdicio de alimentos que nao esta de acordo com a estetica mercadologica que eh implicito nos processos industriais, que as pessoas nao participam. A exemplo, todos estao acostumados a cenouras "normais" com apenas uma raiz conifera, onde eh muito comun haver cenouras com duas ou mais raizes coniferas conjuntas / congenitas. Ignorar alimentos que nao crecem com o aspecto que a estetica implicita exige, ja causa muito mais disperdicio do que o necessario. Muitos destes alimentos poderiam alimentar muitas pessoas.



Criando redes de alimentos para seguranca alimentar

1) As grandes cidades, hoje em dia, podem gerar pessoas ricas ou pessoas pobres. Nao existem motivos para prevenir uma pessoa de ter acesso a alimentos saudaveis, naturais, ecologicos e sustentaveis, quando ela mesma pode participar do processo de producao destes alimentos, quando ela mesma pode utilizar de uma quantidade minima de recursos naturais (agua de chuva, sol, solo, area de solo no chao ou suspensa) onde o dinheiro nao precisa ter um efeito direto no acesso ao alimento;

2) Nao existem limites para os tipos de modelos nao-economicos de producao de comida, se levar em conta a quantidade de pessoas que estariam dispostas a trabalhar como forma direta de subsistencia, produzindo seu proprio alimento, e levando em conta que esta pessoa trabalhando para produzir alimentos, podera produzir muito mais alimento que ela poderia sozinha consumir, de uma forma que o excesso de producao pode ser distribuido a outros que podem pagar uma taxa para o consumo dos mesmos, taxa que pode vir em horas de trabalho na producao ou em dinheiro, que por outro lado, ajuda as pessoas que trabalham para subsistencia a obter acesso a outros produtos que nao podem ser produzidos como forma de subsistencia (roupas, produtos industriais, utensilios caseiros e todos os materiais necessarios para se viver em sociedade);

3) Garantir as pessoas, acesso a producao de alimentos de forma indiscriminada tem total importancia e impacto para multiplos aspectos de qualquer socidade. Levando em conta o custo da manutencao dos sistemas produtivos e de distribuicao em modelos urbanos como suburbia ou zonas rurais separadas e geralmente distantes dos centros populacionais, aumenta consideravelmente a dificuldade de distribuicao e a insustentabilidade dos processos de distribuicao (como poluicao, manutencao e/ou necessidade de estradas, caminhoes, transporte de longa distancia, disperdicio de producao devido o tempo e acomodacao devido ao transporte) assim como impossibilidade da garantia de alimentos frescos e abundantemente disponiveis;



Desenvolvimento de estacoes de ensino para movimentos de seguranca alimentar

1) Em conjunto com a educacao basica dos futuros adultos, os governos devem ter a obrigacao de dar acesso a educao de producao alimentos, disseminando informacao para evitar falhas na producao dos mesmos, de uma forma que processos naturais, estudo de climatologia e sazonalidade das localidades de producao em relacao aos alimentos que possivelmente terao mais sucesso, entendimento do desenvolvimento de insumos naturais/ecologicos para producao de alimentos (alimentos para plantas, adubos naturais, "agrotoxicos" naturais, e etc), assim como orientacao e disseminacao de tecnologias conhecidas para diversos tipos de producao;

2) Dentro de um processo educacional, tambem ha' de se encontrar solucoes para outros problemas, se houver o incentivo com o conhecimento de praticas mais ecologicas de lidar com os detritos, onde somente na construcao de sistemas de tratamentos de residuos organicos e humanos, pode ja haver uma revolucao na forma que as cidades alteram a forma do tratamento do lixo e esgoto, onde ate' a economia de agua, energia e espaco para aterros e/ou tratamento de esgoto, que mediante o uso de fossas secas pode agregar vidas mais saudaveis a comunidades de periferia, palafitas, ribeirinhas, indigenas e etc.



Organificacao das segurancas e direitos humanos de forma constitucional

1) Essas proposicoes devem ser solidificadas no sistema de regras constitucionais do pais, de forma que existe garantia e esforco para acesso a alimentacao de qualidade, de baixo custo e para muitas pessoas, se assim o quiserem, de forma livre, sem custo atribuido ao trabalho de subsistencia, pois produzir comida eh para o bem de todos e nao deve ser tratado como producao industrial ou usando modelos escravocratas, mesmo que esses modelos continuem a ser aplicados de forma a gerar diferencas sociais, daqueles que detem os meios de producao e daqueles que nao os detem;

2) Deve existir uma vontade fundamental governamental a garantir direito de alimentacao da populacao de uma forma mais aprasivel possivel, pois um governo que so se preocupa em captar as riquezas de um povo para agregar riquezas aos politicos e produzir algumas melhorias estruturais, nao eh um modelo funcional que protege a vida das pessoas sob aquela bandeira. Um governo deve existir para criar uma estrutura organizacional que protege sua populacao e ajuda no desenvolvimento de riquezas para os individuos que dali participam, e alimento eh um dos aspectos mais importantes do bem estar de quelquer um. Nao estar preocupado com as necessidades basicas e nao estar preocupado at all.

"De um peixe para um homem, e ele tera uma refeicao. Ensine-o a pescar, e ele podera comer sempre."

"De uma fruta e um legume a um homem, e ele tera uma ou duas refecoes. Ensine-o a plantar as sementes destes frutos, e um dia sua comunidade inteira ira se beneficiar"

sábado, outubro 22, 2005

4 Trekkers

4 montanhistas no brasil

Meu nome é Julio Cesar Hegedus, sou brasileiro, solteiro, e como observo explicitado na documentação referente o meu registro de nascimento, sou nascido na cidade de São Paulo, e registrado como cidadão brasileiro na cidade de São Bernardo do Campo na grande São Paulo, ou seja, na região do grande ABC. Nos dias de hoje, já estou com contas de quase trinta, uma vez que nasci em 1974 ao 22o dia decorrido do mês de Julho.

Ainda quando nos meus 5 anos, mudamos todos, eu e a minha família, aquela que morava em uma casa apenas e não sua totalidade, éramos eu, Debora, que é minha irmã, 1,8 anos mais velha, minha mãe e meu pai, nós nos estabelecemos na cidade de Santo André e de lá por muitas vezes, tantas quantas poderia eu enumerar, partimos para Juquitiba, para passar os fins de semana no sitio do urtigao, nome que meu pai dera ao sitio que eu gostava tanto, acho que assim como todos nós. Ali, comecei a ter uma consciência melhor no que diz respeito a natureza e toda sua força, falando em sua total complexidade de fauna e flora, por se tratar até então de um simples menino da cidade, curioso e que adora as ciências, foi nesse sitio que passei a ter as experiências de convivência e aprendizado com a mata atlântica, nunca antes pude manter um contato freqüente, mais do que nas pequenas viagens que estava sempre acompanhado de meus pais nas trilhas, porem eu ainda assim me evadia pelas trilhas vertentes.

Durante longos anos que freqüentamos o sítio do urtigao, cada vez mais aprendi e me senti mais livre dentro da mata fechada, a encontrar picadas na floresta e estar atento aos perigos e as facilidades ao meu redor.

Ao mesmo tempo que tínhamos o sitio em juquitiba, meus pais ainda diversificavam mais a minha feliz infância, em muitas datas pudemos viajar e acampar pelo litoral assim como pelas montanhas da região sudeste, sempre quando lembro de estar viajando com meus pais, raramente me lembro de algo chato ou massificante, sempre lembro mesmo eram dos acampamentos em Ubatuba, Araruama (RJ), Itanhaem (SP), Morros dos Conventos (SC), Campos do Jordão (SP), Itatiaia (RJ) e tantos outros lugares que seria difícil e injusto querer estar a demonstrar todos aqui, pois eventualmente me esqueceria de alguns lugares.

Tive a infância repleta de experiências positivas em contato com a natureza, sob os pés a terra para pisar, folhas verdes ao redor e muito ar puro, tinha e ainda tenho, uma boa dose de "sebo nas canelas", que era como meu pai costumava referir-se a uma caminhada forçosamente rápida, em todos as áreas onde acampamos, assim como nas devidas redondezas acessíveis a pé, por trilha ou estrada, eu sempre tinha o ímpeto de vasculhar sozinho uma grande maioria de caminhos, sempre estive a correr sorrateiramente pelas trilhas no meio do mato, abandonando meus acompanhantes para trás, o que não é muito diferente hoje, uma vez que é difícil acompanhar o ritmo que encontro em mim, tenho 1,78 com uma grande envergadura nas pernas, e/ou esperando-os em algum lugar bem camuflado, muitas vezes para tentar aplicar-lhes um bom susto, mas que nem sempre virava susto, pois nem todas as vezes eu aplicava-lhes o susto, como já estava fora da trilha principal, eu acabava brincando sozinho, levado pela vontade de sentir-se protegido, escondido, sem que ninguém pudesse ver-me, reapareceria em outro lugar, sinto-me muito bem e livre na mata.

Quando então, comecei a frequentar a escola, um colégio publico de Santo André, logo no segundo ano, já passei a ir e voltar para a escola muitas vezes sozinho e a pé, perfazendo cerca de 2km ida e 2km para a volta e de tanto efetuar esse caminho, acabei ganhando um gosto por andar, gosto esse também já impulsionado pelas instigantes viagens quando acampando, em alguma localidade quase remota, ou devidamente instalado no sitio do urtigao.

Desde essas épocas, onde a inflação era exorbitante, eu ainda era virgem, tinha uma vaga idéia do que a palavra logística significava, assim como outras palavras tais como alpinista, montanhista, trekker e hiker eram apenas vagas impressões de que algum grupo composto por seletíssimas de pessoas estão a usufruir de conhecimentos expertistas em localidades de grande altitude ao redor do mundo, e pelas impressionantes imagens que sempre tive dessas localidades remotas, sempre agreguei uma paixão enorme por todos esses assuntos.

Posso ainda julgar livremente que esses “esportes”, se é que assim possam ser chamados, na minha opinião, não são tão conhecidos nem tão difundidos quanto deveriam ser. Estamos hoje em dia, começando lentamente a evoluir num sentido de turismo baseado em fundamentos de manutenção de ecologias locais, o referido eco-turismo, esta em alta, como diriam os modistas, mas ainda estamos muito longe do potencial que o Brasil oferece, apesar de não termos montanhas de pico nevado, temos montanhas que a altitude é considerável, assim como o esforço necessário para executar tais rotas. Apesar de estarmos em um continente que agrega os Andes com seus imponentes mais de 6500mts com vulcões, Fitzroy, Aconcágua e tantos outros não tão famosos assim, temos nossas montanhas na faixa dos 2.000mts e 3.000mts, que podem causar sufoco a montanhistas experientes, não somente pela ascensão ao cume, mas também pelas trilhas em mata fechada.

Hoje moro na cidade de São Paulo, trabalho com informática, algo que desde a infância me persegue. Acabei ao longo de alguns anos de moradia nesta cidade, fazendo ótimos amigos, sendo que alguns deles não estão tão presentes na minha vida cotidiana, como outros amigos que vejo frequentemente, eles tem uma vida bem diferente que a minha, então por circunstancias da vida, as afinidades mais excêntricas acabam se conectando, e pessoas isoladas que não se conheciam anteriormente acabam por se conhecer apenas para um objetivo o montanhismo.

Estes amigos, são aqueles que pertencem ao seletíssimo grupo de amigos que colocaria minha vida em risco sob a responsabilidade dos mesmos, os dias que já passamos percorrendo caminhos difíceis, mostraram-nos que nossa capacidade de permanecer unidos, mesmo com pequenos momentos de discórdia, fazem valer a pena a viagem, fazem valer a pena tudo que ali passamos. Estes companheiros de viagem, são as pessoas que realmente sabem quem eu sou, sabem assim como eu sei quem são eles e os limites deles, apesar destes ainda não terem sidos testados com total clareza e afinco, coisa que os próximos anos virão a trazer, por experiências mais difíceis em montanhas mais perigosas, que mais confiança virá a nos entalhar.

Para nós, tirar férias ou alguns dias apenas, para completar percursos vertiginosos de dificuldade e distância, nos trás a sensação de paz e tranquilidade, mostra-nos do que realmente somos capazes, assim como o contato com a natureza, mostra-nos de verdade quem somos nós e de que somos feitos. Ver as localidades acessíveis apenas por caminhos perigosos, transporta uma sensação completa de vitória, pois o perigo vencido torna-se um trunfo pessoal e irrefutável da coragem nos momentos difíceis. É mais que notória a informação de que o montanhismo é um esporte egoísta, pois apenas você que esta com os pés na trilha enfrentando os perigos escondidos a cada passo e praticando a atenção em cada um deles a favor de sua vida, trazendo benefícios apenas para você, se ali você morrer e não mais voltar, será somente seu o mérito de estar tentando vencer o inesperado, se você voltar, ninguém mais desfrutará dos resultados, que não você mesmo, e é claro, o grupo que permaneceu incólume sob os mesmos sôfregos caminhos.

Por consequencia dessa introdução, introduzo agora meus irmãos, que comigo percorreram essa trilha, assim como serão seus companheiros nesse relato.

Renato Azevedo, é um amigo adquirido por intermedio não sei bem nem por quem, mas na verdade se tornou um grande amigo, em vários aspectos, nos encontramos frequentemente e frequentemente estamos a conversar sobre qualquer assunto, como qualquer bom amigo. Dentre tantas capacidades e incapacidades que admiro no querido Renatao, sua característica versátil, sua organização quanto a logística e levantamento de informações é realmente algo de extremamente valoroso, quando falando em viagens que devam ser extremamente organizadas para se tornarem confortáveis. Alem de tantas qualidades já mencionadas, ainda devo acrescentar a experiência de Renato na mata também, este é um humano de bons olhos para picadas, assim como um daqueles de pilha duradoura. Trabalhando como funcionário publico na Companhia de abastecimento de água do estado de são Paulo, como todos nos só pode mesmo contar com as férias ou feriados longos para efetuar trilhas de longas distancias.

Regis Rossi, foi uma das primeiras pessoas que me tornei amigo de verdade quando comecei a morar e trabalhar definitivamente em São Paulo, nós nos encontramos no píer de Cananéia, quando estávamos, assim como a maioria de nosso grupo de amigos que naquela época ainda não eram todos meus amigos, indo passar o ano novo na ilha do Cardoso. Regis já havia sido apresentado por um outro amigo, Fabian, que hoje em dia esta morando na Inglaterra, esse também companheiro nosso de viagens, e justamente Fabian, era quem havia me convidado para este reveillon na ilha do Cardoso e era a procura dele que eu ali estava, porem, antes de encontra-lo, deveria eu sozinho chegar até a ilha, engano meu hoje, dizer que estaria sozinho, pois ali naquela ilha, firmei laços eternos de amizade, como a exemplo do próprio Regis. Fascinante na minha opinião falar do Regis, pois este eu também admiro todo o conhecimento adquirido através de longos anos de vida acadêmica na escola politécnica da USP. Também trekker experiente, que já cumpriu rotas extenuantes no brasil assim como fora dele.

Santiago Robles, programador de computadores, conheci quando fui trabalhar para a GEO do Brasil desenvolvendo Firewalls, ele é da área de Lotus Notes da empresa, também continha a tempos até onde eu sei e poderia dizer, uma certa vontade contida de explorar suas habilidades como montanhista. Santiago, não tinha nenhum equipamento até então, se os tinha, eram equipamentos comprados apenas pelo preço e/ou por simples estética, o que por muitas vezes acaba-se descobrindo o porque equipamentos caem em desuso rapidamente. Santiago, participou de uma equipe de Trekking para competições pelo estado de São Paulo, atuantes no campeonato por pelo menos dois anos e meio, a equipe Opus 6 só veio mesmo a colher os frutos da experiência logo após minha saída, no ultimo ano, tendo então a equipe aperfeiçoado métodos de acompanhamento da prova através de formulas inseridas por Santiago, Rodrigo Tardivo e Ernando Marques, a Opus 6 venceu xx campeonatos sendo..., a experiência adquirida nas provas do campeonato de Trekking, assim como através de pequenas viagens pela região sudeste, cumprindo entre outras, região sono / parati-mirim, pico dos Marins (assim como eu, Renato e Ernando), agora já havia se tornado um trekker experiente, assim como todos os outros.

...

Trabalho com Internet todos os dias, e como de costume, como qualquer outro usuário de computador, divido meu tempo de browser entre trabalho e assuntos pessoais, portanto quando encho o saco de ler a respeito de problemas de segurança em Linux, Novell e NT, passo a outra metade do tempo, efetuando pesquisas de trilhas, localidades remotas, lendo relatos, procurando por equipamento, pesquisando sites que contenham mapas e/ou listas de waypoints para GPS. Em um certo site, que infelizmente saiu do ar, encontrei uma grande quantidade de informação sobre rotas em diversas regiões do brasil, e principalmente sobre a serra da Mantiqueira, as travessias Marins-Itaguare e Serra Fina foram executas com sucesso por nosso grupo, e justamente o objetivo deste livro e relatar a viagem que fizemos para a Serra Fina. As informações coletadas foram um arquivo para o GPS TrackMaker desenvolvido por Odilon Ferreira Junior de Belo Horizonte, seu software is downloadable at http://www.gpstm.com, assim como o mapa que foi dividido em três seções. O site que não esta mais no ar, era o www.gpsadventure.com.br, mas parece que o grupo de montanhistas não tinham mais recursos para manter o projeto de pé No meu site pessoal, você poderá encontrar mais fotos e informações sobre essa viagem, encontra-se em www.geocities.com/spectroman, também outras informações sobre minha pessoa.

Planejamos o ataque do Pico dos Marins, assim como travessia da cadeia de montanhas que formam o conjunto Marins-Itaguaré, partindo de piquete e finalizando em passa quatro quatro dias mais tarde. Dessa viagem tiramos uma dezena de experiências valiosissimas sobre nossa capacidade de caminhada assim como nossa própria capacidade e execução de tais tarefas, a trilha que cruza o topo daquelas montanhas exige um certo esforço que você só poderá saber qual a intensidade cumprindo a totalidade do trajeto, que alcança em torno de 40km.

No ano seguinte, prepararíamos a execução da trilha que ficara para sempre em nossas lembranças, a travessia da Serra Fina.

No exato momento em que escrevo este pequeno livro, ha dois amigos, em plena época de chuvas a iniciar o percurso aproximado de 80km através da pedra da mina com seus respeitáveis 2,770m de altitude, dentre outros que estão cotados entre as 10 maiores montanhas do pais.

Eles são justamente Ernando de Sá Marques e Rodrigo Tardivo, na verdade, gostaria mesmo era de estar fazendo anotações para completar este livro, mas não foi possível estar lá neste momento, então boa sorte para eles.

Segundo informações do IBGE as lista dos 5 maiores picos do brasil são:

1o – Pico da Neblina – AM – 3014,1mts
2o – Pico da Bandeira – MG/ES – 2889,8mts
3o – Agulhas Negras – RJ – 2787mts
4o – Pedra da Mina – SP – 2770mts
5o – Monte Roraima – RR – 2739mts

Essas informações na verdade, em relação a serra da Mantiqueira, na verdade não são 100% precisos, uma vez que apenas no ano de 2000 a USP resolveu aferir corretamentamente a altitude da Pedra da Mina até então, a Pedra da Mina era registrada com a altitude aproximada de 2.580mts, após a USP conferir essas informações, o IBGE fez novas publicações com a altitude de 2770mts, porem temos informações da altitude de 2797mts o que o faria o 3o pico mais alto do Brasil. Não é atoa que recebemos informações de que aviões já haviam visitado aquelas encostas, contando com pelo menos 3 acidentes conhecidos, justamente pelos erros grosseiros de centenas de metros nos mapas oficiais do IBGE.

Pedra da Mina assim como os outros picos da região, fazem parte da área de preservação ambiental (APA) da serra da Mantiqueira, que engloba o pico dos Marins também. Mas não sei o que ocorre no brasil, não entendo porque as nossas riquezas são tão descuidadas, aquela região de montanhas com cenas maravilhosas, tem mais ao norte, na mesma cadeia de montanhas o pico das Agulhas Negras, que por acaso é parque nacional, porque será que toda a serra da Mantiqueira, que num pais onde não há montanhas, é um tesouro geológico, não é transformado em parque nacional? Será que o controle político das áreas de florestamento de eucalipto da região são muito poderosos? Um parque nacional seria no mínimo suficiente para proteger a formação raríssima de rochas alcalinas sem quartzo da serra fina.

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Enquanto nos aproximamos do horário para o embarque, com os olhos divididos entre o relógio e a escada que traz a nossa área de embarque a espero de vestígios do Renato, um outro grupo de amigos com suas melhores amigas, suas mochilas, estavam a esperar pelo embarque na mesma plataforma para pegar o mesmo ônibus, após alguns minutos de conversas e apresentações, estávamos a saber que aquele grupo também estava partindo para a travessia da serra fina, porem, eles se utilizariam de um resgate na cidade de passa quatro para o inicio da trilha, economizando algum tempo, como iríamos descobrir mais tarde.

Já são 21:45, algum sinal do Renatao?

Pergunta Santiago, na rodoviária do Tietê, estamos todos os três, eu, Santiago e Regis, já com as passagens em mãos, apenas esperando pelo Renato que ainda não apareceu, pelas ultimas noticias que tive dele, à tarde ele estava participando de um churrasco para sua despedida na SABESP, de uma forma que estava já a beber e a comemorar a tarde inteira. Não muito depois de nos três estarmos reunidos, vejo Renato a descer as escadas em direção ao portão de embarque do Tietê com duas grandes sacolas plásticas nas mãos e a sua mochila entreaberta, com alguns itens dependurados do lado de fora.

Caralho Renatao! Você se perdeu ou algo parecido? Faltam 5 minutos para a partida!

Na verdade eu fiquei na SABESP até agora pouco, fui para casa para arrumar a mochila e não consegui colocar tudo dentro dela, acho que na verdade preciso mudar de mochila, comprar uma nova, sabe como é, essa daqui já deu o que tinha que dar.

Rapidamente eu abri minha mochila para colocar alguma parte dos alimentos, mas como estávamos realmente em cima do horário, resolvemos por entrar logo no ônibus e depois arrumar a bagagem antes de começar a caminhar.

Eu e Renato, estamos aqui para o inicio de nossas ferias, mas na minha mente, acho que como na dele também, estamos a fazer algumas pequenas viagens no decorrer de um mês, nosso plano, é de fazer a travessia da serra fina, descansar em bananal, fazer a trilha do ouro, fazer a Peterê (Petrópolis – Teresópolis) e depois ir em direção a Aiuruoca em minas, nossos planos foram mudando aos poucos e não fizemos todo o planejado, mas não vem ao caso, Santiago iria nos acompanhar na serra fina, no descanso em bananal e posteriormente na trilha do ouro, Regis teria de efetuar a Serra Fina e voltar para são Paulo para trabalhar.

Como todos nos, pretendíamos realmente fazer a travessia, ir de carro obviamente não seria a melhor opção, pois o carro ficaria no inicio da trilha, essa qual terminaria em outra cidade, voltar para pegar o carro não era a melhor das idéias, portanto, planejamos descer em passa quatro e percorrer todo o caminho até o inicio da trilha a pé.

As 04:00 da madruga chegamos a Passa Quatro na região su-sudoeste do estado de minas, é a mesma cidade onde terminamos a travessia do Maringuaré (Pico dos Marins – Pico do Itaguaré), trilha qual na verdade deveria ter terminado na cidade de cruzeiro, mas devido a uma informação conseguida por um local, erramos a estrada que deveríamos tomar, na única bifurcação do caminho e consequentemente andamos algumas horas a mais chegando em um cidade próxima, mas não a mais próxima, naquele dia, já tive o suficiente para me lembrar da cidade e a lembrança foi o suficiente para corroborar com outros que lá já estiveram, então encontramos, também com a ajuda do GPS a entrada da estrada que termina no inicio da trilha.

Com a confirmação de um local e uma pequena parada para abastecimento do cantis, demos inicio a caminha que leva até o inicio da trilha. Uma estrada um tanto que íngreme em alguns pontos, passamos por áreas de florestas de eucalipto, e em algum momento logo após ao amanhecer, por volta das 06:30, conseguimos em uma pick-up de um local, um carona de alguns poucos quilômetros, logo estaríamos a pé novamente e chegando na cabeceira da trilha por volta das 09:00, tendo cumprido a estrada de 11km que nos leva ate lá

No fim da estrada, encontramos um quase estacionamento, pois muita gente que iria acampar na parte superior da montanha, vai de carro até aquele ponto para subir e descer a montanha pelo mesmo lado. Este local chama-se Toca do Lobo, pois ali encontramos uma pequena gruta ao lado esquerdo do fim da estrada e a direita da estrada encontra-se um rio de água cristalina, com um pequeno poço formando um remanso no rio, uma pequena piscina natural. Enquanto ali fizemos nossa pausa para um pequeno lanchinho e descanso, vimos um casal de amigos a se banhar, naquela água gelada logo pela manha.

Verificamos o sentido a caminhar e verificamos o mapa, naquele ponto, estávamos andando a já mais de 4 horas, estávamos já um pouco cansados, ainda mais por ser o primeiro dia, por somente haver subidas e por estarmos exaustos, havíamos todos trabalhado no dia anterior, corrido bastante para organizar e comprar todo o material, passagens, trabalho e mais trabalho, eu mesmo não consigo dormir aprazivelmente em viagens de ônibus, sendo assim, eu precisava de um descanso, assim como era perceptível no semblante de todos. Discutíamos então, onde seria nossa primeira noite, uma vez que não pensávamos em atacar, ou seja, subir toda a encosta de montanha, que seria nosso primeiro desafio, até a montanha chamada de Capim Amarelo.

Decidimos por continuar subindo, e no meio da encosta, efetuar uma pausa para almoço e descanso mais prolongado, e após uma subida não tão complicada, por entre uma vegetação típica da mata atlântica, alcançamos uma encosta já com vegetação de altitude, ali no caso, um capim bem baixo, como esses de campina ou terrenos baldios. Paramos no meio da trilha e fizemos um longo descanso, com direito a almoço, cochilos e brincadeiras.

Enquanto estávamos por ali, passaram por nós uma grande quantidade de trekkers, aproximadamente umas 10 pessoas passaram por nos, em dado momento, voltamos eu e Renato, para buscar mais água, pois o riacho não estava longe dali, voltamos e conhecemos dois amigos que estavam se preparando no rio para subir a montanha, um deles que era da região, havia recentemente, após muitos anos morar na área, descoberto os prazeres daquela montanha e como já havia subido outras vezes, nos deu uma dica de que havia uma nascente de água na encosta da montanha durante a subida, na verdade, nós não precisamos dela, mas já era uma informação nova que não tínhamos em nenhum lugar.

Algumas fotos, um bom almoço de arroz com salsichas, cenoura e suco, alguns minutos de vídeo, já que o Regis carregava consigo uma câmera digital, para registrar o máximo possível dessa localidade, um bom cochilo, foi o suficiente para consumir quase quatro horas em nossa dia, estávamos a olhar, já a distancia a cidade de passa quatro de onde havíamos partido, estávamos a 1.500mts de altitude aproximadamente e eram aproximadamente 14:00hs, partimos na busca de um acampamento mais avançado, este qual chegaríamos por volta das 18:00hs, após termos lentamente avançado apenas 3km seguidos a partir do riacho da Toca do Lobo.

Dormimos a nossa primeira noite na montanha com um bom jantar, tirei fotos durante a noite das cidades brilhantes a nossa volta, assim como todos documentamos o belíssimo por do sol que vimos de uma encosta a 1.800mts de altitude aproximadamente. O local que escolhemos para a primeira noite, foi o acampamento 3, que em caso de intempéries do tempo não é um bom lugar para se acampar, pois não tem nenhuma proteção de rocha, montanha ou vegetação, é simplesmente, uma pequena área no topo de uma variação de terreno na montanha, uma pequena área plana no meio de uma longa subida, montamos nossa barraca virada para leste, para que o sol nasça em nossa porta, enquanto a outra barraca foi montada virada para o oeste, na verdade, não fazia tanta diferença para qual lado montar as barracas, de qualquer forma, você estaria deitando em um lugar não totalmente plano, com uma leve inclinação e devo ainda observar que deveríamos andar pelas redondezas, até mesmo saindo de nossa barraca, com muito cuidado, uma vez que por toda nossa volta as encostas em bem íngremes e para o lado leste, levava a um pequeno vale de uns 400mts, qualquer tropeço faria você rolar até o momento que não sobrasse mais nada inteiro.

Viajamos com duas barracas, onde na minha, dormimos eu e Renato e Santiago dormindo na sua própria barraca com o Regis. Renato e eu, escolhemos cada um seu lado fixo na barraca, colocamos as mochilas no meio da barraca e cada um do seu lado dormiu sossegadamente, exceto pelos roncos do Regis que de vez em quando me incomodam.

Esse foi o nosso primeiro dia, caminhamos praticamente o dia todo, com algumas horas somadas de descanso, porem neste dia, percorremos por volta de 11km de subida de montanha, somando estrada e a encosta até o acampamento.

As 22:00hs, no mais tardar, justamente devido ao dia estafante de carregar peso montanha acima, estávamos já todos dormindo, para que as 08:00hs do outro dia, já estivéssemos todos de pé. Café da manhã composto por achocolatado com leite em pó, algumas bolachas, pão e cereal matinal, o mesmo café que nos acompanhou por toda a viagem.

Partimos minutos antes do Regis e Santiago, que ainda estavam terminando de desmontar a barraca e tomar o precioso café da manhã, tínhamos já naquele ponto, testadas as duas unidades de radio que tínhamos para nossa comunicação.

Eu havia acordado realmente animado em efetuar a subida, que olhando a norte, parecia sem fim, uma dezena de variações na encosta dava a oportunidade para um descanso, e durante um desses descansos, um grupo de rapazes estavam descendo a montanha no sentido contrario, estes na verdade, alegavam que um de seus companheiros passara mal durante a noite, e estavam a descer pois não podiam continuar, será que era um mau pressagio? Disparei na subida a fim de não perder minhas pilhas nem horário, pois quanto antes eu estivesse lá em cima, quanto eu venceria a subida, para tanto, em dado momento, uma hora após começar a calcar os pés a cima, comecei a escutar gritos na parte alta de montanha, como se pessoas ali estivessem a descarregar toda a raiva de alguns anos, e como aquelas encostas não geram ecos, os berros se perdem na imensidão da montanha, só quem esta realmente perto houve com exatidão, eu, no meio da subida, mal podia ouvir o que as pessoas no acampamento 4, que pelo jeito estavam acordando, estavam gritando, também não gritei de volta, como havia feito no dia anterior, estava me sentindo mesmo ofendido, a manha esta maravilhosa e era o primeiro silencio verdadeiro em 1 ano, pois o ruído branco das grandes cidades, perturba mais que realmente imaginamos, ficamos 100% do tempo, com um ruído pesado em nossos ouvidos e ele é tão disfarçado que nem percebemos de verdade, subindo uma montanha assim, ficando distante do mundo, encontramos o silencio.

Já havia distanciado-me o suficiente de Renato para efetuar uma boa parada, quando ele me alcançou, terminamos a subida juntos e fizemos nossa parada já no acampamento 4 por volta das 11:00hs, onde fiz uma ultima verificação de altitude e posição com o GPS, já havíamos passado dos 2.000mts, subido dali para frente, todo cuidado era pouco, estávamos fazendo o contorno do Capim Amarelo para atacar seu cume, a trilha tem muitas curvas estreitas e escorregadias com subidas e descidas curtas, assim como rochas, por entre os bambuzinhos e a vegetação de altitude, que é basicamente composta por uma grande quantidade de arvoredos de tronco forte, devido a umidade da madrugada, uma boa parte do chão estava úmido, dá um medo terrível de escorregar e fraturar alguma coisa, mas isso não aconteceu a ninguém, bem próximo ao cume, encontra-se dificuldades, pois a caminhada se torna quase uma escalada, mas, vence-se rapidamente com bastante atenção nos pés e mãos.

Chegando ao cume do Capim Amarelo com seus 2.392mts, o que significa o 5o ponto mais alto do estado de São Paulo 27o do Brasil, verifiquei novamente o GPS, mas desta vez as noticias não foram boas, o GPS que é um Garmim II, havia sido, como num passe de magica, zerado completamente, não tínhamos mais as referencias amigáveis de direcionamento do GPS para nos ajudar a fazer a trilha seguramente, pois nele havia a rota completa já pré gravada, ele seria nosso guia, daqui para frente, somente um mapa de referencia com coordenadas UTC, bússola, um GPS sem a rota, comente com o posicionamento relativo e atenção ao seguir o chão batido e os totens que indicam a trilha.

Após esperar Santiago e Regis e comunicar os fatos, fizemos ainda alguns minutos de descanso para continuar a caminhada, agora já em uma altitude considerável, o terreno se tornava mais aprazível, mas nem tanto, então tiramos mais algumas tomadas do topo assim como algumas brincadeiras, pois, pensamos que se por um acaso do destino, naquele momento em que estivéssemos subindo ao topo, algum ataque deliberado nos estados unidos, tivessem feito falhar todos os sistemas de controles de GPS se não dos satélites todos, será que alguém tem aí um celular para eu ligar pra casa? Talvez poderia ser dito naquele momento, mas sabíamos que não, que era só uma brincadeira boba, na verdade, foi só o azar de naquele exato momento, de chegar ao cume da primeira montanha, tivemos nossa primeira vitoria e nossa primeira baixa o nosso guia eletrônico via satélite.

Eram por volta do inicio da tarde quando deixamos a conversa fiada de lado e começamos a caminhar novamente, para ser franco, estou apenas fornecendo um horário estimado, pois este dia não ficou bem claro na minha mente, mas pelos horários que encontro claramente na mente, estimo que por volta de 12:00 e 13:00 que iniciamos nossa caminhada, partindo do cume do Capim Amarelo, em direção ao acampamento, que para nos, era relativamente próximo.

Dali pra frente, um caminho não muito longo de aproximadamente 5,5km, nos levaria até o nosso próximo acampamento. Foi uma trilha extremamente extenuante, por vezes, sem muitos atrativos, com a vegetação não tão alta tentando pegar ou partes expostas do seu corpo para proporcionar-lhe pequenos e temporários arranhões e/ou cortes, que entre 2 a 3 semanas após sua incursão pela montanha cicatrizarão, por isso virarão algumas lembranças se tiver mais sorte, porem que são bastante incômodos durante sua caminhada, e por vezes, quando saímos dos diversos vales, alguns profundos outros nem tanto, subíamos pelas encostas das montanhas, vendo subir a nossa altitude em relação ao resto, assim como vendo subitamente a caminhada penetrando em nuvens ao longo da montanha, a sua integração com a natureza passa a cada minuto ser mais factível, os insetos no geral, vão sumindo, você passa a conviver com pássaros um tanto que silenciosos aproveitando os ventos das encostas, que quando soltam um pio é porque existe uma intervenção qualquer e na certa a intervenção somos nos, porem, também em silencio observando o bale delicioso, macio e aveludado nos céus, fazemos nosso caminho também em silencio, e sem deixar demais traços de nossas passagens, exceto pelas pegadas.

Porem não obstante dos pássaros, ainda encontramos pelo caminho alguns outros figurantes sem nome nessa historia, uma vez que de passagem nos conhecemos um grupo de pessoas. dentre eles homens e mulheres, e como qualquer outro humano normal e correto, eu esqueço por muitas vezes os nomes das pessoas, porem devo reconhecer que sou bom fisionomista.

Passados 1km aproximadamente de caminhada partindo do cume do Capim Amarelo, fizemos, por entre toiças enormes de capim de anta que chegam a ter lá pelos seus 2,5m senão 3m de altura, uma pequena parada para re-localização, pois agora sem o GPS necessitávamos de uma certa atenção aos tomar certos caminhos, precisávamos sempre estar certos de haver trilha a nossa frente assim como sob nossos pés, e naquelas condições, com um capim que mal dava para ver as montanhas a nossa frente, deveríamos tomar as devidas precauções e ter a certeza de que todos no grupo estão cientes da situação.

A alguns metros a nossa frente, sentados sob rochas metros acima, estava um grupo grande de pessoas, cerca de 7 pessoas, combatendo o mesmo inimigo, eles estavam também por saborear com os pequenos e enjoativos aperitivos energéticos, que no inicio até são gostosos, mas no fim, você acaba querendo distribuir para os amigos.

Eles que eram os responsáveis pelos gritos na montanha, estavam a nossa frente pela manha e agora estão aqui conosco, devíamos estar andando bem rápido, mas na verdade, seguíamos em nosso ritmo habitual de 4\5km/h, ritmo esse que já foi mais que aferido nas competições de Trekking, sendo uma media de passos de 75cm (em linha reta e no plano obviamente).

Eram eles todos entre 21 e 28 anos, assim como talvez teria esse rapaz mais velho a observar um mapa com uma bússola na mão, este do qual me aprocheguei para conversar, pois na verdade, ao verificar, vi um mapa do IBGE, geodésico em ótimas condições, novo eu diria, com todas as curvas de nível do local, todas as elevações, tudo perfeitamente detalhado, com uma bússola em mãos e um bom conhecimento de navegação, ninguém se perde neste grupo.

Lembro-me de uma menina linda da cidade de Resende, outras pessoas de Jacareí e redondezas, e com eles, havia mais um grupo de homens, que estavam caminhando muito mais rápido a frente, e por motivos de discórdia de algum motivo desconhecido, o grupo havia se separado, os mais machões seguiram a frente, e largaram os molengas para traz, observe que essa descrição dos fatos expressa apenas a minha opinião, de uma forma que foi essa a impressão que mantive daquela desagradável situação, de um grupo se separar durante uma travessia maravilhosa como aquela, melhor dizendo, como pode-se ficar tão irritado com qualquer coisa em um lugar como esse?

Aproximadamente após o Capim Amarelo, cerca de 1,5km de vegetação de arvoredos entre de 3m a 5m, onde após alguns vales inicia-se o caminho de subida, vagarosamente saindo da floresta de altitude e adentrado descampados, para quem gosta de vales, aqui encontram-se bons lugares para se acampar sobre as rochas que abrem clareiras na vegetação, mais algumas centenas de metros a frente, deparamo-nos com uma encosta de rocha, que virava a crista de um conjunto de montanhas, formava-se a nossa frente um abismo de algumas centenas de metros.

Logo quando terminamos, no inicio da crista, Renato encontra o que lhe serviria de ótimo grado até o fim da trilha, e possivelmente para as trilhas seguintes, um par de luvas de couro, ótimas para os mais variados tipos de uso, e extremamente confortáveis também, na verdade, creio que sei até de onde essas luvas surgiram, pois quando havíamos chegado em Passa Quatro algumas dezenas de horas antes, do ônibus desceram conosco um grupo de japoneses que estavam ali para também fazer a trilha e se não me engano, vi um dos japoneses portando uma luva de mesmo porte e modelo, portanto no fim da subida escorregadia e difícil da rocha, ao sentar-se para descansar, o dono da rocha, absorto pela paisagem e provavelmente esvoaçado pelo cansaço, deixou a luva para traz, presenteando Renato e sua sorte infinita.

Sentado nas rochas da crista, equilibrando a mochila na encosta íngreme e consequentemente a maquina fotográfica na mochila, tiramos algumas fotos sentados com a inebriante paisagem a nossa volta, e após verificar com cuidado se nenhuma tanajura se alojava na mochila, com o grupo reunido seguimos a caminhada, e nesse ponto, estava a observar o grupo que havíamos conhecido horas atrás, uma vez que já havíamos vencido os vales e florestas, e estávamos a caminhar pela crista novamente e o grupo ainda não havia nos alcançado, algumas centenas de metros atrás, havia uma bifurcação que poderia confundi-los, naquele ponto, não tinha certeza se alguém havia esperado por eles para informar a direção correta. O clima estava começando a ficar estranho, aproximava-se das 18:00hs quando começamos a caminhar dentro de uma nuvem, e preferi preocupar-se comigo mesmo e com os do meu grupo, que com os outros.

Poucos minutos após nossa pequena parada, encontramos um par de montanhistas fazendo a trilha pelo sentido contrario, não tenho certeza de onde partiram, mas, conseguimos a informação de que mais a frente, muitas das áreas de acampamento estavam sendo ocupadas por muitas barracas, eles já conheciam a trilha, já haviam percorrido outras vezes, e parece que dessa vez tinha bastante gente lá pra cima.

Nossa tática até ali, era justamente permanecer 1 dia de caminhada atras de todas as pessoas que vimos subindo, assim como todas as pessoas correspondentes aos carros e vans que passaram por nos na estrada do inicio e no estacionamento, tínhamos uma opção de tempo a nosso favor, uma vez que todos estavam de ferias, exceto pelo Regis que precisa trabalhar o final daquele feriado, coisa haveria de ser discutida no dia seguinte.

Após perguntar algumas dicas sobre o caminho inevitável e perpetuoso a frente, coisa que na verdade nem serve de muita coisa, pois acabem sendo perguntas bem imbecis, coisa do tipo, a trilha esta bem marcada à frente? Tem água por lá? Essa na verdade era importante, e fomos informados que no próximo acampamento, havia sim um fio de água, o que seria uma poça grande de água formada sobre uma formação rochosa, aparentemente o que acontece ali, é que as grandes quantidades de capim que nascem por cima das rochas e do pouco terreno retém a água formando poças, e com essas informações em mente, nos despedimos, informamos que havia um grupo ainda retardado mais atrás e tocas sebo nas canelas para chegar o quanto antes, segundo as mesmas informações, o trajeto era complicado.

E realmente era, ali, em uma subida de um pico, num trilha estreita por entre floresta de altitude e uma rocha de aproximadamente 6m de altura, Renato da uma mal jeito no ombro, enquanto procuramos caminho nas pequenas fendas que a rocha oferecia caminho acima, e muito dolorosamente vencemos o caminho tortuoso, e logo a frente, já foi necessário pegar uma lanterna, aproveitei para dar uma mordidas desesperadas em uma barra energética e colocar minha capa leve de chuva, algo muito útil fabricado pela Trilhas e Rumos, porem como tudo que é barato tem suas devidas falhas, pois por se tratar de uma capa de chuva, deveria funcionar com chuva, mas é com chuva leve somente, no caso de você ficar muito tempo se molhando, o inevitável acontece, mas para este fim estava perfeito, pois o tínhamos a frente era uma nuvem que possibilitava apenas uns 20m de visibilidade a frente e impossibilitando-nos de ver o por do sol. Estávamos já nesse ponto preocupados, pois não havíamos feito um almoço decente, havíamos decido por fazer um pequeno lanche e seguir andando, meu estômago estava colado nas costas, e estava realmente muito cansado. No momento em que coloquei a lanterna e fiz a pequena parada, verifiquei via radio como estava a situação do Santiago e do Regis, que estavam, algumas centenas de metros atrás de nos, e estavam bem cansados e já perguntando sobre o acampamento, precisavam também de água que naquela altura se não faltava já era escassa para todos, ofereci a idéia de que estávamos perto e que eles precisavam continuar, e continuei a andar.

Em algum momento em um mar de capim de anta, aproximei-me de Renato que estava tentando encontrar o caminho correto e continuei o caminho com ele atrás de mim, não me lembro exatamente quanto tempo andei, lembro-me de ter falado mais algumas vezes ao radio, até que cheguei à uma área descampada com muito capim por toda a volta, estava extremamente esgotado, larguei meu corpo com a mochila sobre a primeira área que encontrei que não obstruía o caminho e onde eu cabia, tentando recuperar o fôlego assim como um pouco das forças para continuar a procurar o próximo acampamento, tinha certeza que estava no caminho certo, pois haviam muitos totens na área para a correta navegação, mas onde estava o acampamento?

Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, apontei minha lanterna para ajudar o caminho do Renato que se chegava e antes que eu dissesse qualquer coisa, ele passa batido por mim, ao virar o tronco e vê-lo caminhando por entre as toiças de capim mais a frente, ele exclama:

OW Olha o acampamento aqui, não é? Você não viu?

Mais do que agradecida foi aquela noticia para mim, e para os outros também, pois a primeira coisa que fiz, quando coloquei a mochila já na área escolhida para acampar, fui procurar água e enquanto Renato preparava a barraca, fiz a comunicação de radio mais esperada do dia.

Santiago, encontramos o acampamento, tem água e tem espaço!

Após nos ajeitarmo-nos como podíamos reservando espaço para Santiago e Regis, uns tantos minutos após, os dois chegam a mesma área, com os rostos providos de semblantes alimentados pelo cansaço do caminho difícil até ali.

Eu mesmo, minutos após coletar a água e antes de bebe-la, tive algum sintoma que deve estar relacionado com o estresse muscular do dia, senti calafrios pelo corpo, um mal estar generalizado e uma tremedeira bastante forte e descontrolada, como havia suado muito para chegar até ali, e por estarmos em altitude já considerável, a temperatura devia se aproximar dos 10 graus, o suor do meu corpo fez com que a temperatura do mesmo abaixasse drasticamente, o que fiz, foi tirar a camiseta suada e me secar da melhor forma, colocar um bom agasalho e me enfiar dentro do saco de dormir na barraca, após um cochilo de 1,30h, fui acordado, já me sentindo bem melhor, por um burburinho lá fora.

Eram cerca de 22hs, quando escutei por alguém pedindo a lata de atum qual estava na mochila de alguém para comer com o miojo que alguém estava por fazer.

Quando levantei dentro da barraca, encontrava-se na cobertura frontal, uma panelinha com uma salsicha enorme e macarrão, que Renato havia preparado para o nosso jantar, quando abri um dos zíperes frontais para conferir a voz desconhecida a pedir o atum, que alguém desconhecido atendeu prontamente, vi 3 barracas sendo armadas com lonas para abrigar todos os montanhistas e suas mochilas ali presentes. Perguntei ao Renato a quantos anos ele não levava comida enlatada para viajar, como Renato não é tão simpático as vezes, não me lembro nem se respondeu, então me ocupei de devorar o jantar, enquanto ouvia alguém dizer que não ia esperar por nada mais, que já estava devorando o atum na lata mesmo e sob os sons de pacotes de bolacha devorei uma maça de sobremesa, tomei um relaxante muscular, roubei um pedaço do snickers que o Santiago levou, e nanei como um neném.

Acordei com Renato saindo da barraca, eu saí logo na sequência, éramos os primeiros a levantar naquele dia, que seria nosso terceiro dia apenas de montanha. Quando fiquei de pé, senti-me um pouco desnorteado, talvez a noite de ontem tivesse me servido de lição justamente de que somos todos frágeis humanos, vencer a montanha, mesmo que seja uma dessas, das pequenas, não é uma tarefa para qualquer pessoa, deve-se estar preparado para todas as situações.

Fiz um bom tempo de alongamento, após um bom exercício de ventilação em conjunto com o alongamento, logo estava me sentindo novo em folha, exceto por algumas dores musculares já surgindo dos dois dias anteriores de esforços, mas nada que os músculos quentes após a retomada da caminhada para esquece-las.

Enquanto estávamos por terminar nosso café e arrumar nossas coisas na mochila, o pessoal do segundo time, começa também a vagarosamente levantar-se da cama, logo percebemos que o cansaço do grupo era generalizado, pois poucos na verdade tinha impresso no rosto uma sensação de bem estar. Alguns minutos adiante, o rapaz do chapéu camuflado, mapa e bússola, abre no chão seu precioso mapa e juntos encontramos e definimos qual seria a rota do dia, dali pra frente, o caminho não era tão longo.

Como sempre, por volta das 09:00hs já estávamos retomando as atividades e seguindo o caminho, partimos antes do segundo grupo, não por nada, simplesmente porque estávamos prontos antes, e para nos, chegar primeiro no próximo acampamento significava descanso, se estivesse vazio, melhor ainda, teríamos também silencio.

O caminho segue por entre as toiças de um capim que as vezes chega na cintura, e as vezes alcança altitudes estratosféricas fazendo-o perder a visão, porem uma pequena centena de metros a frente, encontramos o que hoje eu ainda considero uma das visões de montanha mais linda que já tive no brasil, apesar de não conhece-lo tanto assim, aposto com qualquer um que aqueles vales podem seguramente entrar para a lista de localidades mais lindas do pais, se é que essa lista existe, a base da Pedra da Mina assim como a própria pedra da mina, não deveriam ficar de fora.

No ultimo vale antes da pedra da mina, nos encontramos com um grande grupo descendo a montanha e fazendo sentido contrario ao nosso, era realmente um grupo grande, com cerca de 15 pessoas, estavam todos coletando água no riacho na base da pedra da mina. Sem muita conversa com ninguém, pois o foco todo estava em manter as pernas funcionando, continuamos o caminho, desta vez, na subida da pedra da mina, mais uma vez encontramos com o segundo grupo, eles haviam saído pouco depois que nos após uma longa subida de uns 30 minutos, chegamos ao cume da pedra da mina.

Como se fosse a boca de um vulcão, o topo da pedra da mina tem uma depressão no meio, formando uma meia lua, há um desnível de aproximadamente 10 metros no fundo da boca para a crista, a vegetação rasteira de altitude, pra mim é de tirar o fôlego, apesar de não conhecer a fundo as plantas que compõem aquele pequeno sistema, vê-las floridas em pleno inverno é algo estonteante, o frio e o vento naquelas altitudes podem se tornar preocupantes mas essas plantas resistem com uma beleza intocável.

Existe um enorme totem de pedra no topo da pedra da mina, onde encontram-se bandeirinhas de reza para o Monte Everest, ou o Sagarmatha a mãe da terra como é chamado no Nepal, assim como abaixo do grande totem, encontram-se 1 lata de biscoitos e 1 recipiente de plástico contendo assinaturas de visitantes ao topo, assim como um caderno para assinaturas no cume, nos deliciamos com os recados que encontramos, os dois grupos ficaram ali por algum tempo revirando as informações para ver tudo de interessante que havia, assim como tirando fotografias, registrando digitalmente em vídeo e nosso grupo iniciando o almoço.

Foi lá que efetivamente tirei minha primeira foto de cume, uma vez que no Pico dos Marins nem havia pensado nisso, esse foi devidamente registrado para a posterioridade.

Enquanto a linguiça fritava e o arroz ficava pronto, o segundo grupo, decidiu partir sem parar para o almoço, pois eles já haviam percebido que estavam com um ritmo demasiado lento para executar todo o percurso em tempo hábil e após umas despedidas rápidas o grupo se foi e nós nos deleitamos com o almoço maravilhoso no cume. Fizemos uma longa pausa para curtir o visual e como não teria graça se não existisse nenhum humano faltando pinos entre nos, a liberdade se exortou no sangue do Regis, que por alguns minutos caminhou e repousou completamente nu acima dos 2.700mts da Pedra da Mina, após as fotos que marcam o registro de sua insanidade, resolvemos partir.

O caminho era descendo em uma linha reta para leste e no vale leste-nordeste seguindo a crista na linha do rio a descida até o vale também é pela crista da montanha, e no meio dessa descida, que Regis e Renato haviam efetuado primeiro, encontramos um pesquisador da USP documentando o local, durante a conversa sobre o conhecimento dele sobre o local, sobre a quantidade de pessoas que frequentavam aquelas montanhas, escutamos alguns berros, vindos do fundo do vale, 200mts abaixo de nos em posição oeste-noroeste, era o segundo grupo, eles haviam feito toda a borda da pedra da minha, para depois descer para o vale, eles andaram 3,3hs aproximadamente para chegar no mesmo lugar que nos, que havíamos andado 15 minutos. Enquanto descíamos para o fundo do vale atrás da pedra da mina, o pesquisador da USP trocou uma boa conversa com o grupo, e aconselhou-os a dormir no cume da mina e depois descer por uma rota vertente a travessia, na verdade, eles abortaram a travessia deles, iriam no próximo dia, descer por uma trilha secundaria para a cidade mais próxima.

O vale que fica atrás da pedra da mina, como viemos a ficar sabendo a noite, é composto por pequenos fragmentos de rocha erodida das montanhas maiores, é uma área equivalente a uns 2 senão 3 campos de futebol, a 2.600mts de altitude, onde inclusive passa um riacho com um volume surpreendente de água, simplesmente limpíssima, por toda área, nos estávamos cercados de capim de ante, que alcança algo como 2mts ou 3mts de altura, uma vez no fundo do vale, você não poderá ver muito mais a sua volta. O solo formado de pequenos pedriscos é algo também surpreendente, pois ali, ao bater o pé no chão, você sente a vibração se alastrando, como se você estivesse pisando em um chão bem firme, porem de madeira.

Após todo acampamento levantado, antes do jantar, resolvemos todos coletar água, e possivelmente tomar um banho. Por volta das 18:00hs, tirei minha roupa por detrás de algumas moitas mais altas de capim e com a caneca e cantil, tomei o único banho de toda a travessia, quem me acompanhou gritando na façanha foi o Regis, sendo nos observados pelos olhares aterrados de Renato e Santiago que não acreditavam no que estavam vendo.

Para ser bem sincero, apesar da água estar completamente gelada, assim como a temperatura ambiente também, pois naquele horário já devíamos ter passado dos 10o C, este foi um dos banhos mais fortificantes de minha vida, foi extremamente revigorante tomar um banho de impulso naquele rio. Então em cada barraca, continuou um sujo e um limpo.

Já nos primeiros momentos da noite que vinha tomando conta do céu, um grupo de 7 pesquisadores da USP, desciam do pico da montanha para o vale, sabíamos que no fundo do vale, no lado oposto onde estávamos, e completamente fora de qualquer rota, encontravam-se instaladas 3 barracas sobre uma grande rocha no fundo do vale, estavam estes instalados sobre uma rocha, para cumprir as regras de acampamento de mínimo impacto no meio ambiente.

Quando eles passaram pelo nosso acampamento, que ficava no caminho para o deles, na verdade, bem na primeira clareira no fim da descida do cume da mina, conversamos por alguns minutos e apesar de estar já me aquecendo, limpinho no fundo do meu saco de dormir, conversamos sobre o que eles estavam fazendo por ali e um deles comentou estar executando coletas nos sedimentos de rocha daquele vale, para encontrar pólen de milhares de anos atrás, para observar a evolução do sistema de vegetação da área, pois coletando amostras de pólen por entre os sedimentos daquele solo, poderia mostrar para os pesquisadores quais plantas, se as haviam, tinham sido extintas da área no decorrer dos anos de formação da área.

Após a visita inusitada dos pesquisadores, fizemos nosso pequeno jantar, mas desta vez, sem a companhia de Santiago, que estava deitado na barraca, sofrendo com o terrível feriado que havia, naquele dia, culminado no dia pior mal estar então estava mantendo-se aquecido na barraca. Sob nossa insistência, resolveu se esquentar com uma sopinha quente e também compartilhou um pequeno prato de macarrão, mas não fez muito mais alem de comer e tomar os remédios, e desabou no isolante térmico.

Naquela noite, lá pelas 22hs da noite, sai da barraca e vi um dos céus mais maravilhosos que já havia visto na vida, a via láctea parecia uma mancha branco-acinzentada no céu, que estava por todos os lados, forrado de estrelas.

Pensei qual deveria ser a vista do cume da montanha, acredito que deveria ser uma cena completamente estonteante, uma vez que as duas noites anteriores foram também de tirar o fôlego, apenas pela visão das cidades no fundo do vale, não tínhamos tantas estrelas assim antes, isso sem comentar os espetáculos durante o dia, mas não tive coragem de pegar a lanterna e subir os 300mts de subida forte até o cume, farei isso, quando passar alguns dias em um próximo inverno por lá, pois poderei ter tempo para apreciar todas as visões que se tem do local, assim como terei tempo para fazer todas as coisas que hoje imagino quando voltar por aquelas montanhas, tantas fotos que ainda não tirei.

O frio estava realmente pegando naquele momento, e o poncho que havia levado, não estava me fornecendo o calor suficiente para permanecer muito tempo do lado de fora da barraca, portanto, fui logo tratando de voltar para o meu saco de dormir que ainda estava quente. Incrivelmente satisfatória a funcionalidade de um isolante térmico, graças a isso, fiquei descansado quanto as condições do Santiago, pois, imagine o Santiago com uma gripe daquelas, caminhando o dia inteiro, sob um vento um tanto gelado, sob a roupa molhada de suor, indo dormir num solo que esta em uma condição de temperatura ambiente de aproximadamente 0o aos -3o C, sem isolante térmico? A resposta dessa pergunta eu não sei, porque o dele funciona como o meu, e o meu, funciona como uma pequena fornalha, não sobe o frio, nem parece dissipar-se o calor, a espuma de EVA também fica quente e aconchegante, eu ainda inusitadamente descobri mais uma utilidade do meu poncho, justamente a de cobertor e este cobertor, foi o que fez a diferença entre minha noite bem dormida, com algumas exceções, e a noite do Renato que ralhou bastante sobre o frio que o impediu de dormir a noite inteira. A única coisa que me incomodou durante a noite, que realmente variou a temperaturas tão baixas quanto as citadas, quando eu encostava a cabeça na lateral da barraca eu acordava pois minha cabeça fica muito gelada, então eu virava o meu corpo dentro do saco de dormir para cabeça ficar para o outro lado, em pouco tempo acordaria novamente por que as nádegas estavam congelando e assim ocorreu sucessivamente a noite toda.

Na manhã que se seguiria, não maiores surpresas, do que as que a noite já nos ofereceu, nos aguardariam do lado de fora da barraca, na verdade, pela manhã, estaríamos vendo exatamente o que teria acontecido conosco se estivéssemos sujeito as intempéries.

O forro externo da barraca estava congelado dos dois lados, tanto pelo efeito do orvalho congelado da noite pelo lado de fora, quanto pelo efeito da condensação de nossas respirações e posterior congelamento do lado interno do mesmo forro, o meu cantil que tem um plástico mais grosso, é do mesmo modelo que os militares usam, desses verdes bem comuns, teve apenas metade da água congelada, os outros cantis, garrafas e afins, que além do mais estavam para o lado de fora, viraram praticamente blocos de gelo, a calça que o Santiago colocara num arbusto na esperança de que secasse aos primeiros raios da manha, virou um conjunto de cortes de tecido petrificado e devidamente cristalizado, quando então fui pegar minha maquina fotográfica, que é um modelo manual da Ricoh, ao tentar encontrar o foco ideal da calça tive alguns problemas devido o travamento da lente e pra não falar que não houvera mais, todas as moitas gigantescas de capim de anta estavam brancas, totalmente pálidas do frio que a noite havia proporcionado. Não poderia ter imaginado noite melhor, melhor ainda, não tínhamos imaginado uma noite nessa temperatura, que eu sei que não é tão baixa, mas sabíamos que naquela região já foi registrada a temperatura mais baixa no Brasil, oficialmente -13,5o C.

Melhor que a noite, foi mesmo a manha, com um céu azul tão perfeito quanto poderia se querer, logo estávamos já trabalhando no que era preciso para poder continuar a caminhada.

Enquanto ficava ao sol a capa da barraca que além de descongelar, ainda tinha que secar, fui seguir o Renatão que já havia disparado sentido cume da mina, local onde de fato não chegou, pois como eu, subiu o suficiente para sentir-se como eu me senti, como estando em pé, em uma montanha numa ilha, que estaria aqui então cercada por um mar de nuvens, a visão é de se perder de vista, são agora por volta de 09:30hs, o sol esta subindo esta subindo e lentamente vai aquecendo o grande vale a nossa frente assim como as milhares de moitas de capim anta, que uma vez já aquecidos ficam amarelos, então perceptivelmente têm-se uma faixa capim anta de coloração branca quando ainda nas sombras ou ainda sendo aquecido, a distancia poderia descrever como a milímetros da sombra, enquanto que o resto já ensolarado está discrepantemente amarelos, um espetáculo diante de meus olhos em um lugar totalmente inusitado, a natureza dando mais um daqueles espetáculos de beleza avassaladora, como a observação interessante que foi registrado em fotografia, que é a influencia daquele conjunto de montanhas nas formações de nuvem da região, pois observa-se nitidamente um mar nuvens em diferentes altitudes em diferentes lados da montanha, as do interior são muito mais altas que as da planície onde fica Resende, que são muito baixas. Outra coisa muito interessante que constatamos com nossos próprios olhos, foi justamente um pedaço de fuselagem de alguma aeronave na encosta sul da montanha, é um pedaço pequeno que esta sobre um outro mais a baixo na encosta, não esta exatamente com uma forma fácil de acesso, caso contrario teria dado uma melhor olhada.

Totalmente maravilhado com as visões da manhã extraordinária que fazia no quarto dia de caminhada e já com os músculos quentes da caminhada até metade da encosta do cume da mina, desci e fiz um alongamento, tomei o café da manhã, enquanto ia colocando mais coisas para secar ou para tomar o sol forte que explodia naquele inicio de dia. As outras noticias agradáveis do dia era a de que o Santiago estava melhor, a noite apesar de fria havia lhe feito bem, talvez o cuidado que os enfermeiros-de-montanha lhe fornecera estivera a contento e o mimo reavivou a criança.

Naquela manhã tentaríamos efetivar a ultima busca ao meu boné perdido, pois o Regis não tinha boné para viajar, ofereci o meu 2o boné, que era um já batido de uma tal feira de esportes, o meu 1o boné iria na minha cabeça, ele insistiu tanto que queria meu boné do Linux, uma das poucas coisas na vida que tinha um xodó, pois era um presente especial de alguém especial, tudo bem, pode ser bem besta isso, mas, tinha ótimas lembranças do boné, ele insistiu, questionou minha confiança quanto aos cuidados dele e eu confiei nele, até hoje ele não me deu um novo boné, algo que prometeu diretamente e com as devidas testemunhas, na mesma localidade qual pensávamos que encontraríamos o boné, fato que não aconteceu, então paciência em ambos os casos, fora os CDs perdidos e descuidadamente extraviados, já estamos acostumando.

Por volta das 11hs, partimos sentido Leste-Nordeste, seguindo o caminho do rio para o Cupim de Boi, onde após contorná-lo e descê-lo pela esquerda a Nor-Noroeste, estaríamos perto de nosso próximo acampamento que nos custaria apenas aproximadamente 4km para atravessar florestas de bambuzinhos e de moitas de capim anta, completamente encharcados na base, em alguns casos uma lama negra no solo, é muito difícil se movimentar com uma mochila pesada no meio de toiceiras de capim de 2mts ou mais a sua volta, você pode se segurar neles, mas não tente subir neles, o tombo é quase inevitável, como alguns de nós podem aprender pelo caminho mais difícil. Margeando e acompanhado o sentido do rio verde, descemos, até onde deveríamos encontrar uma trilha que sai do riacho e sobe em direção um pico anterior ao cupim de boi, tentamos primeiro em devida fila, seguir as trilhas que margeavam o riacho até onde dava pra ir, e não encontramos uma trilha que continuava, após quase 1 hora de briga com as moitas de capim, alguém ali perto, havia encontrado uma trilha que levava ao topo do esperado pico. Continuamos então subindo, no pico resolvi parar para colocar as barras da minha calça, pois o capim baixo e outras vegetações estavam começando a incomodar naquele ponto, que já não fazia mais o mesmo calor que o da manhã daquele mesmo dia.

Estava bem a frente de todo o grupo que havia feito uma parada bem mais atrás, eu na verdade estava ótimo e simplesmente continuei andando no meu ritmo e logo, eu estaria no Cupim de Boi, uma montanha que foi rachada ao meio, vê-se nitidamente que metade de montanha ficou no fundo do quase canion que se forma ao sul, onde você poderá ver uma parede de rochas de mais de 1.000mts. Fiquei sentado em uma das bordas próximas ao cupim de boi, onde observei encostas de aproximadamente 1.000mts mais ao sul, achei-as ótimas montanhas para serem escaladas e eu sei que vou voltar, estava então olhando para a grande planície onde estão instaladas diversas cidades, daqui, em ao sul percebe-se nitidamente onde encontra-se a cidade de são Paulo, assim como mais ao norte a cidade do Rio de Janeiro, acredite ou não, à essa altura e nessa distancia, pois estamos bem entre as duas cidades no interior, vemos uma grande camada de ar de uma cor mais escura, não é o branco e cinza claro que temos na direção de Minas Gerais, é uma cor mais para uma tonalidade como a bege, areia, talvez marrom-claro, indiferente a cor, mas vê-se uma massa concentrada de alguma coisa no ar junto com o vapor.

Um helicóptero que passa na grande planície a distancia, passa como se estivesse na mesma altura que nos, sem absolutamente nenhum som, vemos ele como se estivesse em nossa linha do horizonte, assim como uma outra grande quantidade de pássaros que voam bem próximos de nós.

Quando estava já no Cupim de Boi, ao querer olhar uma das extremidades, deixei a mochila de lado e me dirigi à borda, bem antes da borda, o vento fortíssimo que soprava no local, me lembrou que não era uma boa idéia se aproximar daquele precipício sem nenhuma segurança, sem ter no mínimo companhia, sozinho, pensei, poderia colocar a mochila e ir a borda, os 24kgs da mesma me fariam como um lastro, apesar da idéia ser interessante, o medo me disse mais argumentos para continuar que para matar a curiosidade, então, desci sentido próximo vale.

Desci bem antes que todos, e no meio da floresta de bambus, encontrei uma pequena primeira área, o que parecia se tratar do acampamento do bambual, deixei minha mochila próximo dali, e continuei descendo a trilha para verificar se não havia um acampamento maior mais a frente, naquele momento, não obtive sucesso. Voltei então e em poucos minutos todos já estavam chegando ao acampamento. Essa seria nossa ultima noite na montanha, após uma viagem realmente incrível, com paisagens maravilhosas e uma dezena de centena de detalhes que somente estando lá para sentir e ver, não tem o cabimento querer descrever. O Acampamento ficou um pouco apertado, mas funcionou muito bem para 2 barracas.

Fizemos um jantar de gala na encosta da montanha, com arroz carreteiro servido antecipadamente ao ??? defumado que o Renato levou, com suco, comida boa, quente, limpa e em quantidade, comemos todos a vontade e de sobremesa as frutas secas compradas no mercado municipal de são Paulo eram tudo que eu precisava naquele momento, fui deitar mastigando um damasco muito bom, muito saboroso, escutando um CD do Sonic Youth com uma coletânea de MP3 que havia gravado em casa. Como nos outros dias, dormimos todos por volta das 22hs, para efetuar um bom descanso dos músculos e uma boa recuperação.

Logo pela manhã do 5o dia, quando todos fizeram seus comentários sobre a noite, descobrimos que todos nós havíamos tido vários sonhos, alguns incômodos outros não, porem, todos nós nos lembrávamos de nossos sonhos, coisa que não é exatamente comum, pois não são em todos os seus dias que você acorda pela manha lembrando horas de sonho que você teve.

Eu me lembro muito bem dos meus sonhos, um dos quais foi com minha ex-sogra, Sra. Eliane, que estava em alguma feira ou algo parecido acompanhado de senhoras gordas e desagradáveis, fato que 30 dias depois, foi convertido em verdade, pois ela estava realmente em uma feira tentando efetuar a venda de algum tipo de material, porém sem obter muito sucesso, senti no sonho o que ela sentiu estando por lá, mas o porque eu sonhei com ela, dentre outros sonhos, não faço idéia, outros sonhos foram bem interessantes, mas não vou continuar a falar desse assunto, vou voltar a trilha.

Após todos terem tomado café, deixado as barracas para secar ao sol e devidamente alongados, estávamos todos prontos para continuar o caminho em direção agora ao pico dos 3 estados, local onde, obviamente, faz-se a divisa entre São Paulo / Rio de Janeiro / Minas Gerais, e incrivelmente, a divisa dos estados esta exatamente sobre ele, basta conferir em um mapa geodésico de qualidade. A montanha na verdade, não tem muita graça mesmo, dali a visão mais bonita fica por conta do que está mais ao norte, que é o poderoso agulhas negras, que daqui, de tão imponente e bonito, perceptivelmente tem a noção de que ele esta em torno de 100mts acima de nós, aquelas formações rochosas, assim como as que vemos no maciço das prateleiras é de tirar o fôlego vistos daqui.

Como estamos no Brasil e como em qualquer parte do mundo existe gente suficiente mente imbecil para faze-lo, o marco da divisa dos 3 estados, que seria uma quase pirâmide de ferro, com os letreiros soldados com o nome dos estados, está completamente destruído, vê-se que uma parte foi destruída pelo vento a outra por mal intencionados, fico muito triste mesmo em imaginar todo esse trabalho e esforço perdido de trazer até aqui, provavelmente vindo de Itamonte, com o material e executar o trabalho, para que depois veja-se o resultado todo destruído anos mais tarde.

Fizemos fomos os poucos humanos e estar em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo em um espaço tão curto de tempo, em menos de 1 minuto poderiamos visitar os 3 estados e escolher ainda onde querer ficar. A barraca que estava secando no estado de São Paulo, porque lá no bambual não conseguimos sol suficiente a tempo, já esta agora completamente seca, após terminar o embrulho da mesma na sua sacola e prender na mochila, foi o tempo de reiniciar a caminhada, novamente estive procurando o recomeço da trilha no lugar errado e alguém lá na frente achou antes, voltei correndo e iniciei a descida atrás dos outros.

A descida por muitas vezes se torna bastante perigosa, existem trechos que é melhor descer de costas, como uma aranha, empregando técnicas de escalada de 1o grau, é muito pequeno este trecho, a trilha continua seguindo passando por pequenos vales e muitos picos, começam a aparecer as fazendas ou casas dos primeiros moradores da região, nos vales entre o pico dos 3 estados e agulhas negras, seriam eles sul-fluminenses ou mineiros? Porem nada de encontrar as referencias, informadas no mapa ou no texto que o pessoal da GPS adventure descreve o final da trilha. Não existiam as fitas que marcavam trilha nenhuma, não existiam as bifurcações, se estas existissem e as referencias estivessem completamente corretas seria mais fácil. Em certa situação, logo após a descida do pico dos 3 estados, a trilha torna-se pequenos morros, onde fica mais fácil pular de uma altura de 2mts, ali ainda encontra-se uma bifurcação, que obviamente você vê qual é o caminho certo, uma vez que o outro termina num precipício, metros a frente uma floresta de Capim de Anta alto e impedindo que víssemos com clareza alguma trilha demarcada no chão, assim como impossibilitada que algum totem fosse reconhecido no meio daquela confusão de capim gigante. Após quase 1 hora de muita procura e da exploração de muitos lados encontramos a trilha, porem nesse meio tempo, tentamos definir no nosso mapa de referencia, qual seria nossa posição para saber a direção correta a seguir, temos que subir o morro ou descer o vale? O GPS foi regulado em coordenadas UTC como a do mapa que tínhamos em mãos, mas não foi muito útil, em dado momento, encontrei a trilha que subia morro acima, um erro banal que já nos atrapalhou assim como esquentou o sangue temporariamente pelo nervoso de estar perdido num lugar como aquele.

Continuando a subir e descer morros, chegamos ao que acreditávamos então ser o Alto dos Ivos, teoricamente nossa ultima montanha a subir e descer a crista, dali para frente teríamos apenas descida e muita caminhada para chegar até Itamonte.

Logo no inicio do caminho montanha abaixo, algo inesperado acontece, Regis torce o pé logo na encosta do Alto dos Ivos, a pelos menos 8km do final da trilha, Santiago grita pelo meu nome e chegando o Renato mais próximo, fico sabendo de toda a noticia, subo imediatamente para ver o que acontecia, estava então Regis já esfregando uma quantidade considerável de Gelol da região afetada, após ralhar um pouco com a situação fui pegar um relaxante muscular e um anti-inflamatório para que ele tomasse, não sei exatamente o que ele tomou depois, porém, enquanto fui levar o remédio e olhei para o tal pé torcido, não havia na verdade nem um sintoma simples de inchaço ou luxação, simplesmente olhava quieto para ele, reclamando de dor no pé, sentado na encosta, com o celular em funcionamento, estava então a este ponto falando com um parente ou amigo relacionado a medicina perguntando o que deveria fazer, isso depois de falar com Paulo Barba que deve ter respondido algo como, deixa de ser fresco e continua andando... Após alguns minutos de entrave na encosta, observava o sol já tomando seu caminho da tarde e posterior noite, pensei que naquele mesmo dia, poderia fazer uma refeição enorme, ter a oportunidade de dormir em uma cama assim como ter um jantar de Prato Feito, daqueles do interior baratos e pesados, mas naquele momento estava ali, ao lado de alguém que não se mexia e fazia um escândalo de algo nem tão preocupante.

Para não perder o controle e entrar em uma discussão, coisa que já havia acontecido com o Regis momentos atrás, quando tentava identificar nossa posição no GPS e, ou eu, ou ele não estávamos em condições de nos comunicar, o que na verdade tinha já passado, era uma pequena besteira, para evitar qualquer confusão maior resolvi apenas observar o que o resto do grupo fazia, assim como me privei de dar qualquer opinião. O tempo passou enquanto o Regis cogitava chamar um helicóptero de resgate, lamentava que não conseguiria mais andar e terminar conosco a trilha, disse que iria passar a noite na encosta da montanha sozinho a espera de ajuda, hoje talvez ele leia isso e enxergue uma situação tão melo dramática que não acredite nesta versão, porem não é apenas uma versão, são os fatos.

Naquele momento disse apenas 2 frases para solucionar a situação, após discutir a situação com o Renato dividindo o resto de um saco de batata palha olhando a paisagem, interrompi Regis com seu lamurio do resgate e disse:

Deixe de ser ridículo, nem se você realmente quisesse ficar aqui a noite esperando por um resgate, não te deixaríamos sozinho, essa responsabilidade se dividiria, e o que eu posso dizer com toda certeza é que aqui você não fica e aqui ninguém vem te buscar.

Como ele sempre faz, arregalou os olhos e fez alguns segundos de silencio e antes que ele dissesse algo que esboçasse uma reação qualquer, eu emendei:

Esta com dor no pé então, esta dizendo que não consegue descer a montanha carregando sua própria mochila, porém como pude observar, daqui ali você veio sem mochila, se carregar-mos sua mochila montanha abaixo você desce?

Sim, acho que eu consigo.

No mesmo instante, combinamos eu, Renato e Santiago, a forma que deveria ser feito o revezamento, pois, apesar da mochila do Regis ser a mais leve dentre todas as outras, cada um teria temporariamente 2 mochilas para carregar numa trilha estreita, acidentada e agora não tão difícil, mas uma tarefa bem chata de ser executada.

Santiago foi o primeiro, desceu um bom trecho por entre os bambuzinhos, até que eu estivesse mais próximo e dividisse temporariamente o peso, então o Renato, disparou na frente, e largou sua mochila em algum lugar bem mais a frente, voltou e levou a do Regis mais a frente ainda, o próximo que chegasse que era eu, levava mais a frente, se o processo com nos três se repetiu até que acabasse a maior parte das descidas íngremes e na rocha, andamos por quase 3km carregando a mochila do Regis. Em algum momento, a dor passou e ele retomou com o seu próprio fardo, ou por outro ponto de vista, ele se viu enfadado ao ridículo vendo os amigos carregando a mochila dele. Dentre essas opções, não atrevo-me a discussões, apenas aos fatos.

Uma vez já com a normalidade restabelecida, cada com sua própria mochila, seguimos o caminho da trilha em direção ao sitio do Pierre, Regis ainda estava andando mais lento que o grupo quando o fim do dia nos alcançou ainda com os pés na mata densa. Estávamos já longe da descida da montanha, eu e Renato em ritmo acelerado bem a frente, com um dos dois rádios que carregávamos, Santiago caminhando alguns minutos atrás de nos e Regis bem distante de nós três bem mais atrás. Quando a inclinação do sol, fez com que o chão da floresta começasse a sumir, Regis entra em contato via rádio e avisa que não tem uma lanterna disponível, pois a única lanterna que ele levou, estava perdida em algum lugar de sua mochila, que na verdade já não continha muita coisa.

Ao receber tal comunicado via rádio:

Hei, vocês não podem me esperar, pois esta escurecendo, estou ficando com medo e não encontrei minha lanterna...

Eu fiquei tão enraivecido que decidi por não falar ao radio naquele momento, de fato, fiquei tão bravo com a situação, uma vez que ainda faltava um longo caminho para o nosso destino e no nosso grupo havia alguém descuidado o suficiente para numa situação como essa ficar sem lanterna, que comecei a xingar todos os nomes que me vieram na cabeça, a raiva tomou conta de mim como muitas poucas vezes aconteceu na vida, disparei a berrar.

Neste momento, Regis que estava meio desnorteado bem atrás acabou por escutar os berros e guiou-se pelo som, encontrou-nos minutos mais tarde, após Santiago também em se juntado a nós.

Dali, sem demais comentários, seguimos o caminho restante em ritmo acelerado, aproximadamente a 6km/h ou quase 7km/h. Terminamos a floresta e alcançamos um sitio no final da trilha por volta das 20hs. Não haviam muitas pessoas na área, no primeiro sitio na verdade não havia ninguém, reabastecemo-nos de água para o resto da caminhada, que na verdade não sabíamos até onde seria. Tentamos ainda conseguir uma carona com moradores da área, mas o esforço foi em vão e partimos para a caminhada de 14km pela estrada até Itamonte.

Estávamos já tão cansados de caminhar o dia inteiro e ainda ter de fazer esse trecho de estrada, que foi uma verdadeira dádiva encontrar-mos um hotel na beira da estrada, que naquele momento não admitiria mais hospedes, porém Regis conseguiu usar um telefone no mesmo para contratar uma kombi vinda de Itamonte para nos levar a cidade. Apenas os 2,5km que havíamos caminhado, mostrou-nos a importância dessa carona, pois os outros 14km seriam muito complicados de vencer até a cidade.

Eu que estava com saudades em demasia de uma pessoa cujo apelido é ventania, fiquei surpreso ao ver o adesivo que portava o pára-brisa do automóvel, ventania, em letras estilizadas e cavalares, só para balançar ainda mais meu coração o nome da motorista que viera nos buscar era simplesmente Julia. Coincidências a parte, este tipo de comportamento me aborrece no universo, pois estar com tanta saudade de uma pessoa e ver todos os indícios dessa pessoa entrelaçados nos fatos do seu dia-a-dia torna o dia, mesmo que sem rotina, uma tortura.